Na concepção de alguns, posso parecer louca e/ou até mesmo estranha.
Mas sabe aquela sensação de não viver o que realmente foi prometido, e se sentir presa em um lugar que não é o seu? Até mesmo uma saudade sem explicação... A falta de alguém... Sonhar quase que constantemente, em rota de colisão com a realidade e pensar que está prestes a enlouquecer?
Recentemente, relendo alguns de meus textos antigos, e por toda atmosfera da terceira dimensão, finalmente, cheguei a conclusão de que esta procura não é somente minha.
Há um ser, não sei em qual dimensão nessa imensidão de Galáxias que também está à procura de seu fractal de energia, é através dos meus sonhos vem ao meu encontro.
Como será possível?
***
O trabalho na empresa estava corrido, mal tinha tempo para respirar, e sem contar com a concorrência, efeito do capitalismo.
Logo após o expediente, desligava a minha mente na tentativa de relaxar, conectando-me com o Eu Superior.
No entanto, outro dia foi completamente o oposto: Com documentos importantes em uma pasta, trouxe para casa, afim de na manhã seguinte, economizar tempo, deixando-os em uma das filiais e retornar a empresa o mais rápido possível.
Ao chegar à filial, logo na entrada notei um movimento diferente do habitual com algumas pessoas fantasiadas ou vestindo roupas típicas de outras nacionalidades. Identifiquei-me logo, sendo autorizada a entrar, seguindo direto para o elevador.
No meu andar chegando pairava um completo silêncio diferente do que acontecia na rua com algumas apresentações. Na sala me aproximando de outras pessoas não notaram a minha presença, agiam dissimulados e ao me notarem mudaram completamente o assunto. Realizei o que fui fazer, mesmo pedindo para permanecer um pouco mais no local, decidi que o melhor seria ir logo.
Ao deixar a sala, tal qual não foi a minha surpresa, as intervenções artísticas havia tomado os corredores.
Um grupo de Jango com belas mulheres lindamente trajadas com as suas saias rodadas, e os homens com vestimentas africanas. Na ocasião, um casal se apresentava com algumas pessoas os observando. E foi a minha vez de parar por alguns segundos contemplando o maravilhoso gingado. Quando o homem alto, negro, de pura elegância ímpar, aparentando os seus trinta e poucos anos estendeu a sua mão em minha direção e com um olhar convidativo.
Olhava-o perturbada...
- Eu? – Perguntei-lhe me apontando.
- Sim! Você! – Ele me respondeu.
- Mas não sei dançar. – Eu continuei.
- Não tem problema! A intenção é essa! – Ele completou.
Neste exato momento, uma força se apoderou de meu corpo, fazendo-me caminhar em sua direção, e tocando a sua mão fez com que me conduzisse sob os compassos do atabaque.
A energia do ritmo penetrou em minha essência, fazendo-me volitar pelo espaço como uma exímia dançarina.
- Viu como aprende rápido? – Ele me perguntou.
- Não acredito no que estou vivenciando. – Eu exclamei.
- Talvez seja outras vidas conversando com o seu corpo! – Ele me explicou.
- Como pode ser? – Eu lhe indaguei.
- A alma fala através de experiências passadas. O que você foi em outras vidas? – Ele quis saber.
- Em outras vidas já fui atriz, bailarina e tantas outras coisas mais. Porém, hoje sou escritora! – Eu lhe respondi compenetrada em uma espécie de transe.
Fascinados...
Os nossos corpos rodopiavam.
De repente, ele cessou os seus movimentos, segurando as minhas mãos e me olhando fixamente nos olhos.
- Sei quem você é... Há muito tempo eu a procurava...
- Como pode ser? – Eu lhe interrompi.
- No mundo físico não existe explicação, em outras dimensões as energias se atraem e se conectam. – Ele continuou.
Os nossos olhares não saiam um do outro, comunicando-nos através deles.
- Espero que se recorde de quem eu seja... O Eduardo... – Ele me disse quase em súplica.
- Sim! É você! – Eu exclamei.
Estava tão ansiosa por nosso reencontro, sem acreditar no presente que recebíamos.
Eduardo se inclinou em minha direção, encostando os seus lábios com os meus, rendemo-nos a um delicioso beijo. Em seguida, ele me rodopiou pelos corredores, dando-me espaço para interagir com as outras pessoas. Estávamos encantados por nossa reaproximação, e na primeira oportunidade após agradecermos aos aplausos, pedimos licença e adentramos em um dos elevadores.
Eduardo me avisou que gostaria de me mostrar um lugar, onde me mostraria algo. Sem compreender estávamos em um táxi e conduzidos ao Cais do Valongo. Por coincidência, desde a sua descoberta desejei está ali para sentir a energia do lugar.
- Aparentemente, você não se encaixaria com o nosso povo. No entanto, a cor da pele em nada quer dizer. Em sua alma exala o seu amor por nossos irmãos, pois é nela que reina a sua ancestralidade. Com certeza, pode me achar louco, mas a primeira vez em que a vi, e recordo-me foi nesse exato lugar, quando chegamos após atravessarmos o oceano. – Eduardo continuou.
As palavras de Eduardo fazia total sentido com tudo o que vivenciava, pois sentia que existe alguém à minha procura... Os sonhos... As vozes em minha cabeça e que não seriam os meus pensamentos, mas alguém me chamando à distância, tendo a certeza de que algum dia o encontraria nesta vida ou nas próximas. E estávamos ali não somente pelo espiritual, mas na densidade da terceira dimensão, no corpo físico.
A energia se tornava tão mística que por impulso, desfiz-me dos calçados e girando o meu corpo com os braços abertos, olhando para o céu, uma aura me inebriou, e ao tocá-lo podia visualizar uma luz lilás envolta de nossos corpos nos transmutando em um único ser.
Sem alguma cerimônia, rodopiávamos em um transe mediúnico que nos fazíamos entregar à roda de Jongo reverenciando a ancestralidade, com várias pessoas ao nosso redor entoando a canção milenar.
E subitamente, não estávamos mais no antigo porto, e sim, em uma cachoeira maravilhosa nos banhando em sua água cristalina, revigorando as energias.
Não somente a sua presença, mas aquele lugar me proporcionava uma sensação tão intensa de paz, não me deixei desvencilhar, entregando-me não somente de alma como também de corpo.
O homem negro, literalmente o dos meus sonhos, presente comigo em um mundo absoluto, onde ambos sentíamos a mesma necessidade em desfrutarmos na forma única do entrelace carnal.
Eduardo repetiu o mesmo movimento de quando estávamos no prédio, no entanto, existia mais vontade, e sem hesitar deslizava as mãos por suas costas não somente fazendo menção, mas nos despindo.
O furor de nossos corpos se fazia crescente em meio à natureza com uma leve ventania fazendo barulho por entre as árvores e bagunçando os meus cabelos.
Tudo aos poucos foi se encaixando em minhas lembranças, colocando em ordem cronológica cenas de vidas passadas misturadas com a atual, um deja vu, sensações renascendo, no fundo de nossos âmagos e reinando a felicidade do reencontro.
O chão forrado por seu traje, Eduardo me fez deitar totalmente nua, evidenciando o contraste de nossas peles –
A sua boca me acariciava, assim como as mãos, as sensações bailavam sinuosas, enquanto, procurava-o tateando até que lhe encontrei totalmente firme... Rígido... Desejando ser plenamente preenchida.
A língua tesa escorregando para baixo, passeando por meus seios, despertando certa ansiedade mesclada com sussurros –
Os dedos tocando a parte mais sensível do meu corpo –
Gemidos ecoando pela ambiência, penetrando-me, a euforia e o entorpecimento fazendo a cabeça girar em câmera lenta –
A língua quente inebriando a magia.
Há quanto tempo sentia a sua presença forte e viril ao meu lado, revelando-se quando necessário.
O tesão percorrendo pelas entrelinhas, alimentando-nos –
Contorcia-me pelo prazer a nós dois proporcionados.
Por alguns segundos, colocou-se ajoelhado à minha frente, e ficou me observando como se desejasse gravar não somente a cena, mas as sensações em sua alma.
Tocava-me para que pudesse sentir todo o desejo,
E, de repente, Eduardo se projetou por cima do meu corpo, encaixando-se na boceta, transcendendo-nos em apenas um ser.
Com os olhos fechados para intensificar outros sentidos, podia visualizar uma aura envolta de nossos corpos, um portal.
A mesma sintonia de antes com a dança, ocorreu no instante do enlace carnal, em oscilações frenéticas e ao mesmo tempo cadenciadas. Nutríamos um ao outro reverberando a energia límpida e translúcida, sem nenhuma mácula.
O sentimento da partilha há muito procurado, realizava-se para o embevecimento mútuo.
O anseio era tão somente que aquele momento durasse para o todo sempre, tornasse infinito, e assim, desfrutássemos por longas horas.
Porém, era tudo tão intenso, deixando-nos ofegantes, e pouco a pouco o êxtase se verteu em meu corpo, fazendo-me estremecer, agarrada a sua pele de ébano, apertando-o, mordendo os meus lábios.
Eduardo segurava as minhas mãos com os dedos entrelaçados, olhando fixamente em meu olhar fortalecendo a conexão, sem cessar com as vibrações.
A cada nova investida, surtia uma onda de prazer, preenchendo-me por completo –
Os sons ecoavam pela natureza –
Impondo mais firmeza, Eduardo se expandiu ejetando o elixir da vida em meu ventre, de uma maneira jamais sentida.
Após alguns minutos, ao nos acalmarmos, deitou-se ao meu lado me aconchegando em seus braços.
Senão tivesse sentido ali tudo o que experenciava –
Não acreditaria!
Contemplávamos a Mãe Natureza, enquanto, ele arrumava os meus cabelos, conversávamos, sorríamos.
O seu olhar era tão penetrante como se ali coubesse um Universo inteiro, e tenho a plena convicção que sim.
Sem percebermos, ou ao menos sentirmos, acabamos por adormecer.
Ao acordar uma sensação de satisfação não somente no corpo como também na alma -
Em minhas narinas um perfume de rosas.
Ao abrir os meus olhos, não estávamos mais naquele lugar mágico.
Agradecida por tudo, levantando-me e conferindo o horário, percebi que estava ficando atrasada para recomeçar a minha rotina diária de correria, experenciando não somente o sobrenatural e o extraordinário, mas aprendendo a lidar com a realidade de um corpo físico.
***
O que antes pensei ter encontrado -
Permanecerá divagando por meu imaginário...
Por entre a lucidez de um despertar,
Que sejamos sempre luz!
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