quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Requintes da obsessão - 3ª parte - Requintes que levam à morte




As poucas mulheres, ou melhor, as serviçais que se encontravam na parte comum da mansão, ou alguma que cuidavam do quarto, mal falavam comigo. Isso quando era necessário. Sempre havia algum lacaio presente para deixar tudo em controle.

Mas um dia, as sombras daquele pesadelo começaram a se acentuar novamente, iguais a fantasmas cruéis à minha volta.

***

Pouco antes do horário do almoço, um de seus lacaios vestido com uma túnica, bateu à porta de meu quarto e, ordenou-me que vestisse apenas uma fina camisola.

- Mas...

- Faça o que lhe mando! - Disse ele me interrompendo. - E seja o mais breve possível! - Complementou.

Ao fechar a porta, o meu corpo tremia, mal tinha o controle sobre mim... Lágrimas escorriam de meus olhos sem a menor menção de choro.

- O que estaria por acontecer? O que fariam comigo? - Pergunta-me em voz alta.

À duras penas consegui me trocar e, mal me vestindo, ele tornou a bater com mais força, dando sinal de irritação.

Com passos lentos abri a porta e o lacaio colocou um capuz negro em mim, agarrando-me pelo braço me puxando de qualquer maneira pelas escadas abaixo.

A minha mente veio à tona todo o cenário que vira no primeiro dia em que cheguei naquele lugar: Os corredores... As luzes vermelhas... Os lacaios... As estruturas metálicas medievais para a prática de tortura e os demais apetrechos.

Sem a menor cerimônia fui atirada por uma porta e devido ao ranger se fechara.

Ao chão demorou algum tempo para que eu pudesse retirar o capuz e ao tomar coragem para arrancá-lo, notei de que nada adiantara... Ao tateá-la notei que as paredes frias e a escuridão era completamente intensa. Não havia móveis... Nada havia... Era somente o vazio e eu.

As horas foram se passando... Com o tempo veio chegando a fome e a sede. O que aquele homem cruel poderia estar tramando? Nem sequer se deu ao trabalho de mandar um de seus lacaios forrar um papelão velho ao chão para que eu pudesse repousar o meu corpo enfraquecido.

O tempo se rastejava feito um animal faminto no deserto.

Doce ilusão a minha em acreditar que seria poupada de outras atrocidades por aquele homem pervertido.

Neste tempo em que estou aqui foram rara, às vezes, em que o vi... Mantinha-me presa... Eu era o seu troféu.

Quando alguém era autorizado a dar alguma informação, quase sempre uma ordem, como de costume era comum uma espécie de testemunha, melhor um
fiscal para inspecionar tudo o que estaria acontecendo.

A fome me corroía por dentro e a sede deixava a boca cada vez mais seca.

Não sei se suportaria outra sessão de tortura, embora não tivesse ocorrido mais. Porém, nunca é uma palavra que não existe e, em mais ou em poucos dias sabia que voltaria a acontecer novamente... Embora não fosse do meu agrado.

Não sei quanto tempo se passara...

Perdi completamente a noção trancafiada naquele lugar. E devido a minha fraqueza, passava a maior parte adormecida.

Até que senti a água batendo em meu rosto.

Ao me esforçar para levantar... Escorreguei e bati com o rosto de encontro ao chão... Notei a presença de dois pares de pés... E com cuidado me levantando outra vez, vi um lacaio com um balde na mão e o meu algoz com um sorriso cínico nos lábios. Não pensei duas vezes e lambia o chão na tentativa de amenizar um pouco a sede, porém, o caimento do piso não me ajudava muito. Se o lacaio ria de mim eu não sei, devido ao seu capuz, mas podia notar o brilho de seu olhar saboreando a crueldade.

Os meus olhos foram vendados e, puxada novamente pelo braço, fui direcionada a outro local... O meu corpo enfraquecido estremecia e ouvia as pisadas fortes daquele homem à minha frente.

Ao nos aproximarmos ouvi o ranger de uma porta velha se abrindo e ao retirar a venda uma luz forte ofuscou a minha visão.

- Preparada para o show? - Perguntou ele com perversidade.

Ao tentar olhar com as mãos nos olhos percebi que era uma arena, um pouco diferente da noite em que cheguei, com assentos para algumas pessoas se acomodarem e, elas estavam lá, usando não capuzes para esconderem as suas identidades, mas um tipo de máscaras... Muito estranhas.

- Meus admiradores... Esta pode ser uma noite especial. O ritual do sangue! Também merece uma atração especial... Aquela que deu início a tudo isso... Aquela que me deu o poder de viver... Ou melhor, de adquirir os meus poderes, desde o dia em que por motivos de força maior... Aquela que me fez conhecer a dor e eu transformei em algo prazeroso... Assistindo de camarote o sofrimento alheio e vocês verão como isso pode ser mais forte do que há em nossas almas. - Disse ele com os braços erguidos.

- Você... Vocês são loucos! - Gritei.

- Cala-se! Você aqui só tem o direito de fazer o que eu te ordeno! - Gritou ele puxando os meus cabelos.

A plateia observava atentamente, não esboçando qualquer reação como se adestrada para isso.

E eu... Simplesmente com a minha agonia corpórea... Onde a fome, a sede e o frio se faziam presentes, totalmente seminua a poucos segundos de não sei lá o que.

O mentor de tudo fez um sinal usando uma das mãos e entraram dois lacaios empurrando uma grande cruz.

Feito uma lança dilacerando o meu peito ofegante, veio à tona todas as lembranças daquela fatídica noite em que Ângelo fora torturado e assassinado, ninguém fizera nada para nos ajudar e, principalmente a ele.

A cruz foi fixada em um pedestal e dela desciam enormes correntes, as quais os dois homens me prenderam pelos braços e, puxando-as me ergueram...

Quanta blasfêmia... Pensava!

Além de meu enfraquecimento... Da dor da alma... Agora a dor se tornara física.

Quando me encontrava no alto, o regente daquele circo de horror, fixou pequenos grampos em meus pés e me dava pequenos choques.

Os gritos denunciando o meu sofrimento em nada atingia a frieza daquelas pessoas. O que ganhariam?

Ele percebendo que não suportava fez outro sinal para que me abaixassem. Por um momento, pensei ter atingido a sua piedade. Puro engano. Porém, não acabara.

E trouxeram um suporte para que me colocassem de quatro. Mas ao me colocarem, aquela era diferente, embora de quatro, dependendo de meus movimentos, as minhas pernas eram puxadas de tal maneira que as garras me apertavam. Para completar a sua maldade, ele acoplou um apetrecho em seu pênis, fazendo com que ganhasse mais espessura.

Antes com um só puxão de suas mãos, rasgou o fino tecido que cobria o meu corpo indefeso... Deixando o caminho livre.

A buceta ainda mais exposta era vasculhada por seus dedos sem o mínimo grau de sensibilidade... Lágrimas escorriam de meus olhos... Pois cheguei
a uma conclusão: Se gritasse, o tesão dele tomaria proporções maiores.

Não demorou para que sentisse o gélido instrumento perfurando o meu canal anal... Mordia os meus lábios já que as mãos estavam algemadas.

O povo presente assistia de camarote vip a minha sodomia... O que na verdade era aquilo tudo? Um culto negro? Adoração ao diabo? Uma forma de se fortalecer diante de seus inferiores? Uma maneira covarde e cruel de subjugar os seus subordinados?

Em nada compreendia... Diabo? Inferno? Se é que existe... O meu inferno estava configurado na vida que fui obrigada a ter. E quem na verdade eram aquelas pessoas? Tudo me deixava arredia.

A dor se fazia lancinante em meu corpo... Tudo indicava que ele desejava perfurar o meu intestino, causando-me uma hemorragia... E, assim assistindo do ângulo superior a minha frágil agonia até finalmente fazer a passagem para a morte.

Se era a morte quer eu desejava? Sim! A morte ansiava com todas as forças que me restavam.

Ele me deu uma falsa impressão de que nada aconteceria comigo, enchendo-me de gentilezas... Presentes... De cuidados em meu quarto... Os livros... Entre outras coisas, mesmo com a sua ausência... Como se o seu lado mais sombrio não pudesse mais me atingir. Pois tinha o conhecimento de outras mulheres na mansão, além das serviçais.

De alguma maneira elas eram tão mais vítimas dele, deveriam ser coagidas de alguma forma... Trabalhando como escravas. E não compreendia como suportavam tamanha perversidade daquele homem frio, calculista e sem coração.

Os meus pensamentos focava em outra direção... Imaginava os momentos felizes que tivera com Ângelo e tantos quantos mais poderíamos ter.

O fato de ter sido um rei em sua vida passada... De ter me amado, sendo eu uma senhora casada e morta pelo marido em nome de sua honra. Se for verdade, fui tão vítima quanto ele. Tudo acabara... Rompera-se! Por que ficar prolongando todo aquele sofrimento de ambas as partes? Já que ele sempre põe a todo momento o dedo na ferida.

Em meu íntimo ficava toda aquela perturbação, sentia-me fraca...

Ele notando que não demonstrava qualquer reação e, que as algemas em meus tornozelos pararam de me apertar... A fúria se apossou de sua alma...

Pois esperava que eu pudesse me agitar, espernear e gritar. Feito uma criança pirracenta... Que me fizesse em choque... Que me convulsionasse em prantos para alimentar o seu tesão por me ver coagida.

E num ataque de fúria... Ele próprio abriu as algemas e me jogando ao chão em total descontrole, colocou-se sobre o meu corpo pálido e enfraquecido, dando-me tapas, puxando com força os cabelos, quase quebrando o pescoço... Desaguando toda a sua insatisfação. Não pensava em modo algum reagir... Não queria... A minha alma não desejava mais a vida e sim a morte com aquela maneira de viver. Ninguém interferiu... Alguém sequer mencionou em fazer algo para me livrar de suas garras. Até que ele se levantou e pela sombra em cima de mim, observava-me.

Um de seus lacaios me colocou naquela estrutura como se fora uma guilhotina.

- É isso o que acontece com quem não me obedece... Coloque a venda nesta cadela! - Disse ele esbravejando.

Não ouvia sequer a respiração de alguém... Mesmo com o silêncio imperando. E ninguém possuía a ousadia suficiente para respondê-lo.

Alguns infinitos segundos se passaram...

Até que senti algo frio tocar o meu rosto.

- Vamos ver se consegue adivinhar... - Disse ele com sarcasmo.

Nada respondi.

- Uma mulher tão culta e inteligente não consegue prever o que pode vir acontecer instantes depois? - Perguntou ele passando o instrumento em meu braço.

Ainda calada senti além do pequeno traço de dor, o líquido a escorrer por minha pele. Só então, descobri que, ele tinha em mãos um afiado canivete.

- Quando estou me exibindo não sei qual será o próximo passo... Isso depende da reação da minha vítima. E para quê estragar o seu rosto tão cedo?
- Falou ele diabólico.

O meu tormento se tornou descomunal.

- Acabe logo com o que pretende! - Gritei.

- Não seja idiota! Foi você quem deu início a este ciclo de crueldade, Thiza! - Gritou ele.

Somente ouvia o som de suas pisadas se afastando e se aproximando de mim na frente e também outras atrás.

Ele me introduziu algo e, o que pude perceber, um objeto roliço com uma grossa espessura quase rasgando a minha boca e por trás objetos semelhantes simultaneamente por meus orifícios inferiores, ou seja, na buceta e no cu.

A dor se fazia tamanha e a todo momento aqueles instrumentos eram manipulados de forma doentia e animalesca.

Como poderia acabar com tudo aquilo? Como sairia de toda aquela sessão de tortura?

- Retirem a venda! – Ele ordenou.

A luz ofuscou a minha visão novamente.

Um de seus lacaios me libertou... E novamente fui colocada na cadeira medieval cheia de engrenagens... Braços... Pulsos... Pernas... Cabeça...

Tudo imobilizado... Literalmente imóvel!

Agora sem a venda, assistia ele a brincar com o canivete em meu corpo passeando com ele por minhas partes íntimas.

Toda aquela tensão...

Pressão psicológica...

Concentrei-me naquilo que desejava e, quando se aproximou de mim... Dando menção de que enfiaria a lâmina em meu sexo... No seu rosto cuspi, com resquício de saliva.

Por um momento, constatei que ele continuaria o movimento de sua mão, porém, desferiu um golpe em meu peito.

- Sua vadia! Veja o que me obrigou a fazer! - Disse ele.

- A morte... Somente a morte para me livrar de você... - Disse quase sussurrando.

Rapidamente me libertou da cadeira juntamente com os demais lacaios.

- Isso não deveria ter ocorrido. Mas você exerce uma força fora do comum em meu consciente... E o pior... Em meu subconsciente! - Esbravejou ele.

Sentia o meu corpo flutuando, mas estava sendo carregada para a enfermaria.

Mesmo inconsciente desejava a morte e eu havia provocado caminhos para tal. Sem saber o que de fato aconteceria. E reencontrar-me com Ângelo era o que mais queria.

As minhas preces foram ouvidas...

Algum anjo deve ter se apiedado de meu sofrimento... Ao longe avistei uma luz e Ângelo se encontrava nela... Eu erguia a mão em sua direção.

- Salve-me... Salve-me... - Pedia em súplica.

- Você não pode ir! – Ele gritava... O meu algoz, como se adivinhasse.

A sua voz era cada vez mais distante.

***

Não sei o que encontraria do outro lado da luz que me inebriava de êxtase... Sei que em alguma parte dela Ângelo me aguardava... E se ficasse, não poderia viver uma vida repleta de incertezas.

Eu desejei a morte... A morte dessa vida...

Para viver outra com Ângelo.

Então, sem reação alguma com as vozes ficando ainda mais longe... Abandonei todo o ritual diabólico daquele homem possuidor de uma alma negra.

Na verdade, não sei se realmente era Ângelo, ou se fora apenas uma ilusão.

Sem qualquer indagação eu segui a luz forte e brilhante para viver uma nova vida, depois do que eles chamam aqui de morte.

O mal jamais deve prevalecer...

E deixei para trás, o homem que poderia ser a minha alma gêmea.

Mas com a dor, fora totalmente endurecido por suas escolhas erradas...

Eu segui o caminho da luz...

E, se algum dia, tornaremos a nos encontrar...

Ângelo...

O meu algoz...

E eu.

Só o maior poder irá definir as linhas e entrelinhas do destino.




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