Sempre eu...
Com os sonhos que me revelam um
pouco do que já fui a outras vidas passadas.
Ou será apenas o reflexo de um
velho espelho desnudando os meus desejos mais insanos.
***
Pelas ruas do bairro caminhava
sozinha... Era um aspecto sombrio para aquela hora do dia. O ano era de mil
novecentos e vinte e alguma coisa. Não sei precisar a data, mas os meus trajes
e corte de cabelo da época, revelaram-me esses detalhes.
O meu cabelo ruivo e cacheado,
moldado em cachos, um pouco acima dos ombros e preso apenas de um lado, dava-me
um toque de sofisticação.
Com certa altivez, passos
apressados e sinuosos, detive-me em uma cafeteria. Eram poucas as pessoas que
obtinham deste prazer. Muitas pessoas da
sociedade frequentavam este tipo de lugar para demonstrarem o seu poder
aquisito e também para saberem os últimos acontecimentos da cidade e até mesmo
fofocar.
Como estava de passagem pelo lugar,
não me importei de ir sozinha...
Após alguns minutos, notei a
presença de um cavalheiro distinto em outra mesa... O que deu início a um
flerte e eu o correspondi.
E num dado instante, percebi que
ele chamara o garçom e pediu para que me entregasse um bilhete... Este me pedia
permissão para se sentar em minha mesa, assim me faria companhia e a minha
resposta foi positiva.
Não demorou muito para que em um
piscar de olhos nos tornarmos íntimos.
***
Sou uma mulher livre...
Muito bem conhecida e relacionada
por minha profissão de atriz.
Nunca me deixei levar pelas convenções
sociais...
Neste e em outros pontos sempre fui
subversiva.
***
A minha conversa com o tal senhor
distinto, foi tomando um rumo erótico. E super animados, ou diria, excitados,
decidimos por continuar o nosso assunto em um lugar mais apropriado para a
ocasião. Afinal de contas, ninguém queria ser preso por atentado violento ao
pudor. E eu nem poderia, por ainda ter alguns compromissos naquele lugar.
Convidei-o para a suíte do hotel,
aonde me hospedara. Por seus modos, notara como era educado e galanteador...
Não ficara deslumbrado com o ambiente. Pelo contrário, mostrava-se habituado a
frequentar este tipo de lugar.
Ao nos encontrarmos a sós, foi
depositando o paletó sobre a poltrona da antessala...
A sua mão foi deslizando por minhas
costas, abaixando o zíper do meu vestido, revelando mais a minha pele clara,
enquanto abria os botões de sua camisa, mostrando um tórax peludo.
O clima de luxúria tomava conta do
ambiente...
O inevitável aconteceu.
Corpos se entregando á lascívia...
Ao misturar a fome com a vontade de
comer...
Ao mesmo tempo nos embriagando com
o vinho que havíamos levado para a ocasião.
Sexo masculino e feminino...
Tudo era sentido no amplo ato que
cometíamos... Sem pensarmos ou nem imaginarmos nas consequências que poderiam
ser acarretadas por qualquer ato impensado.
Porém, usufruímos a tudo com a
calma que os deuses nos proporcionam.
***
É neste momento que a mulher se
sente liberta de todo o aprisionamento de comportamento que a sociedade a
impõe, em uma cultura machista e repleta de punições.
***
O seu cacete parecia me
hipnotizar...
Entre os meus lábios me embriagava
mais do que a bebida alcoólica, com a sensação de languidez que provocava em
meu corpo, fazendo tudo ter sentido.
As personagens até ali
interpretadas por mim, todas passavam a ter um significado ainda maior...
Pois naquele palco improvisado
sobre a minha cama, a alma se resplandecia toda em sua aura, contagiando-nos.
Ele sabia exatamente o seu papel de
coadjuvante e estava ali somente para me proporcionar o prazer que tanto
almejava...
O gozo quando brotou...
Este floresceu de forma crescente e
sentida em cada contração de meus lábios vaginais... O que fazia com que ele
desfrutasse de minhas reações com os solavancos em meu sexo e o deixava cada
vez mais rígido.
A minha pele arrepiada...
O corpo lânguido...
As estocadas mais firmes...
Até que se deixou derramar...
O líquido viscoso inundava as
minhas entranhas, alimentando a voluptuosidade de minha essência.
Em atos contínuos, como uma peça
teatral, tudo ocorrera como deveria ser.
Pele arrepiada...
Corpos suados...
Respirações ofegantes...
Desejos pelo momento saciados...
***
Quando tentávamos nos recuperar da
loucura que havia acontecido, ouvimos batidas na porta da antessala do
quarto... Era o serviço de quarto...
Ao colocar o roupão, uma das
serviçais, avisou-me que tinha uma mulher na porta do estabelecimento fazendo
um escândalo. Porque soube que o marido foi visto saindo da cafeteria e
entrando no hotel acompanhado por uma atriz.
Neste momento, eram três serviçais
tentando colocar pano quente na situação.
- Não tem problema algum... O
escândalo já está formado! – Eu lhes disse.
- Minha senhora, precisa ser mais
cuidadosa e discreta! – Falou-me uma das serviçais com um pouco mais de
intimidade.
- Entendo! Mas quem tem que se
preocupar aqui não sou eu! Afinal de contas, o casado aqui não sou eu! – Eu lhe
expliquei.
- Minha senhora! – A outra exclamou
colocando uma das mãos sobre a boca.
- Chega! Não tem clima mais para
nada! Então, recomponha-se e vá acalmar a sua esposa! – Eu falei dirigindo-me
ao quarto para o distinto cavalheiro.
Uma das serviçais o ajudou a juntar
os seus pertences.
Um quarto funcionário do hotel,
dirigiu-se a minha suíte, pedindo para que todo aquele constrangimento fosse
tão logo resolvido, pois a frente do estabelecimento estava tomada por
curiosos. E já a imprensa chegaria, por se tratar de uma atriz.
Do alto do prédio só se via as
luzes da cidade e se ouvia o burburinho que ali se formara.
E ele em posição de fracassado,
pondo abaixo a imagem de virilidade que outrora fizera, deixou o quarto com a
ajuda das funcionárias.
O homem depois de algumas horas de
prazer deixou o meu quarto...
Qual explicação dera à sua mulher?
Não soube... E nem me interessou
saber!
***
Com a ajuda de uma das funcionárias
que momentos atrás estivera em meu quarto, novamente me arrumei...
Ao deixar o hotel para prestigiar
uma peça de teatro, ao deixar o prédio, algumas pessoas ainda se encontravam
ali por conta do escândalo da tal mulher que, para minha surpresa também estava
por lá e quis tirar satisfação.
- Ah minha senhora... Não tens que
brigar comigo. O único responsável é o seu marido. O casado da história é ele!
– Eu a respondi.
- Você é louca! Vou registrar uma
queixa contra você! – Ela me desafiou.
- Fique à vontade! Não arranquei
nada daquele indivíduo. Não dará nada no corpo de delito! – Eu a respondi.
- Você é uma prostituta escondida
atrás dessa profissão de atriz! – Ela esbravejou.
- Faça-me o favor! Senhora, como
lhe disse: Fique à vontade. A vida é minha. O corpo é meu. – Eu entrei no carro
que já me aguardava a deixando falando sozinha.
***
No dia seguinte, a história já
estava estampada no pequeno jornal da cidade.
O que fiz, foi me deleitar.
A minha passagem seria discreta, mas
devido ao tal acontecimento, o convite para permanecer na cidade se estendeu
por mais uma semana... Onde pude ter contato mais direto com pessoas da alta sociedade
e políticos importantes se hospedavam no mesmo hotel apenas por uma noite para desfrutar
de minha doce e cordial companhia.
Os contratos em minha terra natal
foram se multiplicando, ao ponto de escolher as minhas personagens.
Mesmo com todos os percalços que a
sociedade me impõe, jamais deixaria que as pedras pelo caminho me
derrubassem...
Poderia até tropeçar...
Mas cair... Jamais!
Um comentário:
Muito bom adorei
Postar um comentário