Lilla Bittencourt continuava em seu cativeiro: Um apartamento localizado numa área bem movimentada da cidade na qual residia.
Como as investigações pelo seu sumiço não levava para lugar algum sem mais indícios, com o tempo foi caindo no esquecimento.
***
Enquanto isso, no seu pequeno território insólito, Heitor Kannemberg lhe confiou um pequeno computador, porém, sem acesso a internet ou algo parecido. O único programa instalado, o world para que ela pudesse escrever.
Havia dias em que ela mal digitava uma letra, quem dirá uma sílaba ou um texto inteiro. Não fazia sentido nada o que estava vivendo.
“ Como ninguém nunca descobrira o seu paradeiro?” – Ela se perguntava.
Nos dias em que nada produzia Heitor não a alimentava. Tanto o seu desgaste físico e psicológico era notório.
Por vezes, escrevia cartas para a família e para os amigos, mesmo sabendo que Heitor Kannemberg as leria e depois apagaria qualquer vestígio de seu confinamento. Ao menos aquilo fazia com que o tempo passasse e também se tornou uma fuga para não enlouquecer.
Nestes dias a comida vinha racionada, assim com a água disposta em pequenas garrafas pets.
***
Na calada da noite, durante as madrugadas, estes eram os momentos em que Heitor mais gostava de agir, entrando sorrateiramente no cômodo onde Lilla passava a maior parte do tempo. E pela ausência de sol, a sua pele se tornava mais branca.
A sua tortura se iniciava com um copo d'água jogada em seu rosto, enquanto estivesse dormindo. Ou como antes de entrar no recinto, ele se masturbava e ereto, invadia sem nenhum escrúpulo, tampando a sua boca para abafar os seus gritos. Na maioria das vezes, amordaçava-a para não correr nenhum risco de ser descoberto.
Lilla sofria todos os tipos de agressões como puxões de cabelos, tapas, socos, mordidas, tinha na pele marcas de pequenos riscos feitos por bisturis. Isso dependia do grau de perversão de seu algoz.
Em seu terror psicológico, instigava-a com as suas ideias, como se lhe encomendasse textos, para que depois ela passasse tudo para a tela em branco do Office. Mas antes de tudo, a tela pintada era o seu corpo, pois ele a deixava cheia de hematomas.
Heitor Kannemberg não se importava com a dor que infligia no corpo e na alma daquela que um dia teve a aspiração de ser uma escritora.
***
Nesta mesma madrugada com os punhos atados e nua, Heitor deitou a cadeira com o encosto no chão, colocou-a apoiada como se ficasse de quatro, deixando-a exposta. Ele trajando o seu roupão como de costume, despiu-se... Lilla amordaçada nada poderia fazer.
Um cheiro de vela tomou conta do lugar.
Heitor neste momento nada pronunciava, mas em seu olhar havia algo de perversão.
Ao sentir o primeiro pingo da vela tocar a sua pele, Lilla se debateu... E com agilidade Heitor amarrou os seus tornozelos, imobilizando-a para que a usasse da maneira que desejasse. Ele continuou com a sua tortura e, os pingos de velas escorriam por sua pele clara até esfriarem. Ela não podia visualizar apenas sentir a ardência depois da dor inicial.
E ao caminhar a sua volta se mostrava teso, robusto e cada vez mais imponente.
− Você sabe que eu quisesse acabar com você, assim o faria! – Heitor falou quase sussurrando.
Lilla apenas o olhava.
− Ninguém mais saberia e nem mencionaria mais o seu nome... – Ele continuava.
Uma lágrima começou a escorrer de seu olhar. E por sua vez, fez com que ficasse com mais tesão.
Heitor se colocando por trás, agachando-se desferiu uma tapa em sua coxa fazendo com que se contraisse, quando no mesmo instante, enfiou três dedos em sua boceta a manipulando.
O que ela sentia se transformava em um misto de dor, prazer e de raiva. Como poderia ter deixado cair na armadilha armada por um psicopata manipulador?
Com ele impondo o seu terror a dedilhando com ferocidade, como ordem natural de seu corpo, sentia-se lubrificada... Molhada... E isso, fazia com que ele percebesse a sua excitação.
Heitor usando um consolo de borracha maior e mais grosso do que o seu próprio membro, enfiou-o na boceta. Lilla continuava parada e não fazia a menor menção de movimento com o pênis artificial atolado em si. Ele rapidamente se levantou e se retirando do quarto, retornou com um espelho e o acomodou na frente de seu rosto para que pudesse desfrutar de suas reações faciais, voltando a enfiar e retirar o consolo de sua boceta.
Através do espelho, Lilla observava o cacete já lubrificado e emanando as primeiras gotas... Quando ele com os dedos começou a manipular o seu pequeno orifício. As carícias foram dando lugar as investidas, iniciando com três dedos, depois com mais dois quase enfiando a toda a mão.
Lilla se contorcia de dor tendo os buracos inferiores preenchidos pela perversão de Heitor, que ao encostar o pau teso na entrada de seu rabo, olhava-a fixamente através do espelho, lágrimas escorriam molhando a sua face. Com uma só investida, invadiu dilatando todas as pregas.
Lilla não se rendia. E por esta atitude a dor se tornava lancinante. A única reação que ela tinha, era senão chorar. O choro se fazia presente, tornando-se impossível de conter. Mal sabendo ela que o incitava agindo dessa forma.
Heitor Kannemberg após longos minutos se deixou derramar dentro de seu rabo. E mesmo depositando a sua última gota de sêmen, continuava a esfolar a boceta. O corpo de Lilla se contraía involuntariamente. Ela tremia, enquanto continuava com os açoites. Em dado momento, rasgou-lhe a boceta, penetrando o mais fundo que pudesse, gozando outra vez.
Levantando-se e se aproximando de seu rosto:
- Pense em um texto baseado no que acabou de vivenciar! – Ele lhe ordenou.
Lilla em choque só tremia.
E, retirando-se do quarto apagou a meia luz.
Sem precisar quanto tempo, ele voltou tomado banho. Podia-se perceber pela fragrância que o seu corpo exalava.
Lilla estava de cabeça abaixada quando ele a desamarrou e permitiu que tomasse um banho. Enfraquecida e com dores pelo corpo, ficou um tempo sentada no box do banheiro e com a boca sempre amordaçada.
De volta ao quarto, deitada sobre a pequena cama que mal lhe cabia, sentia-se feito um animal acuado. E novamente, ele interrompeu a pouca luz que existia. Ainda tremendo, perguntava a si mesmo quando tal sofrimento acabaria. Em seu íntimo, preferia a morte do que aquela vida vil que Heitor Kannemberg lhe apresentava.
***
Na manhã seguinte, Heitor levara o seu café da manhã. De um jeito ou de outro ele precisava dela para alavancar uma carreira de sucesso como escritor. Por fim, logo após o seu desjejum ela começou a escrever. Naquele dia, escreveu tanto que perdeu a noção do tempo que restara.
Nos dias seguintes, seguiu com o seu ritual, que até mesmo Heitor Kannemberg a deixou um pouco de lado.
O que Heitor fazia quando ela escrevia, armazenava os seus escritos em um pendrive bem pequeno.
Em pouco mais de um mês ela escreveu um livro cujo o tema era sobre BDSM. Talvez achasse que depois desse feito, ele a libertaria. Ledo engano.
Com longos meses sofrendo a violência quase todos os dias, Lilla viu que o seu martírio não teria data para acabar.
Certa vez, Heitor Kannemberg entrou em seu quarto com uma garrafa de champagne e duas taças. Ela foi acordada de supetão, sem compreender o que estava acontecendo.
- Agora o momento é nosso! – Ele falou exaltado.
Lilla coagida em um canto, ficou sem entender.
- O seu livro, ou melhor, o meu livro... É um sucesso! – Ele lhe falou entusiasmado.
Ela sem nenhuma reação, apenas o olhava fixamente.
Heitor a obrigou beber, e com estômago vazio, o álcool saiu rasgando a sua garganta. O que a deixou tonta imediatamente.
- Acabei de chegar do coquetel de lançamento. Algumas leitoras queriam me acompanhar. Mas por bem, achei que esse momento mereceria ser seu! – Ele lhe explicou.
Ela apenas balançava a cabeça em sinal de negação.
- E você minha querida, amanhã vai começar a escrever outro livro, como se fosse a continuação desse. – Ele seguia a ordenando.
Lilla virou as costas, ele a puxou pelo braço...
- Claro que você vai escrever sua vadia! – Ele exclamou desferindo uma tapa em seu rosto a fazendo cair.
Heitor Kannemberg rasgou o fino vestido que cobria o seu corpo, sem se despir, colocou o membro ereto para fora da calça e a violentou novamente.
- Isso aqui é para lhe mostrar quem é que manda aqui! – Ele lhe dizia, enquanto a estocava violentamente, apertando e mordendo os seus seios, tirando sangue.
E quando a deixou:
- Amanhã não terá nem água e nem comida, passarei o dia fora. – Ele se retirou a deixando no escuro.
***
As horas foram se passando –
O corpo dolorido.
Para matar a sede, bebia a própria urina.
***
À noite, ele lhe levou comida. A sua fome era tamanha que comia feito um animal usando as mãos.
***
E durante os dias que se seguiram, Heitor passou a maior parte do tempo ocupado. Até que não mais se fazia presente.
- Ele não mais apareceu... Ninguém sabe que estou aqui... – Ela pensava.
Lilla sem qualquer contato com o mundo exterior, com fome e ficando cada vez mais enfraquecida, pensava que se ele não voltasse logo, talvez não resistiria.
Adormecida –
Foi despertada por várias vozes que parecia ecoar por dentro de sua mente. Com o tempo percebeu que eram reais e ao mesmo tempo estranho, pois Heitor Kannemberg não faria uma festa com ela presa em seu apartamento. Nem mesmo os seus familiares eram permitidos a lhe fazer visitas.
Lilla pensava que ouvia uma alucinação, que enfim, os anjos viriam resgatar a sua alma, de tão enfraquecida que estava delirando. Até que passou a ouvir choros e lamentos. Vozes elogiavam o talento promissor de um escritor em ascensão, devido aos seus contos, poesias e finalmente um primeiro livro publicado, e que em pouquíssimo tempo despertou a atenção da mídia.
- O que está acontecendo? – Ela se perguntava.
E quando deu por si, as vozes iam se aproximando e ouvia o som de abrir e fechar as portas, como se vasculhassem a residência.
Lilla se rastejou, ficando encostada à porta para ouvir o que acontecia com mais nitidez. Foi então, que percebeu a chance de escapar daquele inferno, passando a bater na porta.
- Tem alguém aqui! – Uma voz feminina exclamou.
- Será que este apartamento é mal assombrado? – Uma voz masculina indagou.
- Deve ter sido impressão. Como está trancada, pedirei o auxílio de um chaveiro. – A voz feminina interviu.
Lilla tornou a bater, mesmo esvaindo o resto de suas forças.
- Se é impressão a sua, eu também a tive! – A voz masculina retificou.
- O chefe! Tem alguém ou alguma coisa aqui! Mas a porta está trancada. Em todas as portas têm chaves por dentro, ou por fora. E esta não! – A voz masculina observou.
- Como assim? O porteiro e os familiares nos avisou que o escritor Heitor Kannemberg residia sozinho. – Outro homem ponderou.
Aos poucos Lilla foi escorregando e desmaiou.
- Se não tem a chave, o negócio é meter o pé Chefe! – O primeiro homem sugeriu.
- E é o que farei! – O homem deu um golpe contra a porta que foi parar longe, chegando a atingir o corpo de Lilla.
Os três ao adentrarem no quarto, ficaram surpresos com o corpo da mulher estendido no chão.
- Será que a está morta? – A mulher quis saber.
Um dos homens agachando e tirando o cabelo de sua face...
- Ué chefe... Essa não é a Lilla Bitencourt que está desaparecida há dois anos? – O primeiro homem constatou.
- É ela sim! – A mulher confirmou.
O chefe que na verdade era um delegado da polícia verificou que Lilla ainda respirava e que a sua pulsação estava fraca.
A policial feminina logo acionou uma ambulância com urgência.
Os demais familiares de Heitor que aguardavam na sala vigiados por outro agente, nada entenderam até que a equipe médica resgatando Lilla e a colocando no soro imediatamente.
O seu corpo era marcado pela violência que sofria ao longo de tantos meses.
- Quer dizer que aquele pilantra a manteve esse tempo todo em cárcere? – O outro policial indagava.
- Se ele sofreu o acidente há quatro dias, ela ficou esse tempo sem se alimentar. – A policial ponderou.
- Não. Pelo estado de seu corpo, dá para perceber que ele racionava a comida. Uma forma de tortura. Enquanto nas redes ficava se exibindo. – O delegado retificou.
- Mas será como que ele agiu para tira-la e traze-la de volta quando a outra equipe veio averiguar o apartamento? - A policial continuou arguindo.
Os familiares de Heitor Kannemberg foram dispensados, já que agora o apartamento era palco de um crime.
Depois de Lilla encaminhada para o hospital, a sua família foi avisada do seu paradeiro, passado a surpresa, veio o alívio.
- Filho da puta! Pena que morreu em um acidente automobilístico! – O delegado esbravejou.
- Como dizia a minha vó: Há males que vem para o bem! – O policial comentou.
- E muitos ficaram horrorizados pelo estado em que o seu corpo ficou, já que foi decapitado e teve o seu órgão genital dilacerado. – O Delegado observou.
Após vasculhassem todo o apartamento e recolherem os computadores, cpus e HDs, passariam um pente fino em tudo, o mínimo fato averiguaria para incriminar Heitor Kannemberg mesmo em sua morte. E torcendo para que Lilla se recuperasse. Eles não deixariam que a sociedade idolatrasse um psicopata.
***
Após um mês hospitalizada e recuperada, Lilla deu o seu depoimento na delegacia narrando todos os detalhes de sua vida no cativeiro.
- Alguém aqui leu o livro do Heitor Kannemberg ou o seu blog? – Lilla perguntou aos presentes.
Quase todos afirmaram que sim, por conta do caso.
- Na verdade, o livro é de minha autoria. E nele narro com requintes de detalhes o que ele fazia e me sujeitava. – Ela complementou.
- Então, ele a mantinha presa para escrever? – O delegado perguntou.
- Sim! – Lilla afirmou.
- Então, esta informação abre outro leque no processo e vamos verificar! – O delegado concluiu.
***
Como Heitor Kannemberg estava em ascensão devido a publicidade que a mídia vinha dando ao livro, que depois da sua morte se esgotou. A imprensa deu prioridade ao caso do sequestro de Lilla, ainda mais sabendo que ele se apropriava de sua obra intelectual.
***
Finalmente, quando o caso foi concluído, Lilla foi passar um tempo fora para que aquilo tudo ficasse para trás.
Com o tempo passou a escrever para se exorcizar e cicatrizar a alma daquilo que de ruim vivera, expondo os seus medos e fraquezas no papel. Já que se sentar à frente de um computador ainda era difícil. No início a ajuda da família e dos amigos foi primordial.
E hoje ela segue a vida não tanto exposta como deveria ser, ainda mais como uma escritora. Porém, ficou uma ferida aberta.
Nem todo mundo é aquilo que aparenta ser!
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