quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Memórias de outra vida



Sempre eu...
Com os sonhos que me revelam um pouco do que já fui a outras vidas passadas.
Ou será apenas o reflexo de um velho espelho desnudando os meus desejos mais insanos.
***
Pelas ruas do bairro caminhava sozinha... Era um aspecto sombrio para aquela hora do dia. O ano era de mil novecentos e vinte e alguma coisa. Não sei precisar a data, mas os meus trajes e corte de cabelo da época, revelaram-me esses detalhes.
O meu cabelo ruivo e cacheado, moldado em cachos, um pouco acima dos ombros e preso apenas de um lado, dava-me um toque de sofisticação.
Com certa altivez, passos apressados e sinuosos, detive-me em uma cafeteria. Eram poucas as pessoas que obtinham deste prazer.  Muitas pessoas da sociedade frequentavam este tipo de lugar para demonstrarem o seu poder aquisito e também para saberem os últimos acontecimentos da cidade e até mesmo fofocar.
Como estava de passagem pelo lugar, não me importei de ir sozinha...
Após alguns minutos, notei a presença de um cavalheiro distinto em outra mesa... O que deu início a um flerte e eu o correspondi.
E num dado instante, percebi que ele chamara o garçom e pediu para que me entregasse um bilhete... Este me pedia permissão para se sentar em minha mesa, assim me faria companhia e a minha resposta foi positiva.
Não demorou muito para que em um piscar de olhos nos tornarmos íntimos.
***
Sou uma mulher livre...
Muito bem conhecida e relacionada por minha profissão de atriz.
Nunca me deixei levar pelas convenções sociais...
Neste e em outros pontos sempre fui subversiva.
***
A minha conversa com o tal senhor distinto, foi tomando um rumo erótico. E super animados, ou diria, excitados, decidimos por continuar o nosso assunto em um lugar mais apropriado para a ocasião. Afinal de contas, ninguém queria ser preso por atentado violento ao pudor. E eu nem poderia, por ainda ter alguns compromissos naquele lugar.
Convidei-o para a suíte do hotel, aonde me hospedara. Por seus modos, notara como era educado e galanteador... Não ficara deslumbrado com o ambiente. Pelo contrário, mostrava-se habituado a frequentar este tipo de lugar.
Ao nos encontrarmos a sós, foi depositando o paletó sobre a poltrona da antessala...
A sua mão foi deslizando por minhas costas, abaixando o zíper do meu vestido, revelando mais a minha pele clara, enquanto abria os botões de sua camisa, mostrando um tórax peludo.
O clima de luxúria tomava conta do ambiente...
O inevitável aconteceu.
Corpos se entregando á lascívia...
Ao misturar a fome com a vontade de comer...
Ao mesmo tempo nos embriagando com o vinho que havíamos levado para a ocasião.
Sexo masculino e feminino...
Tudo era sentido no amplo ato que cometíamos... Sem pensarmos ou nem imaginarmos nas consequências que poderiam ser acarretadas por qualquer ato impensado.
Porém, usufruímos a tudo com a calma que os deuses nos proporcionam.
***
É neste momento que a mulher se sente liberta de todo o aprisionamento de comportamento que a sociedade a impõe, em uma cultura machista e repleta de punições.
***

O seu cacete parecia me hipnotizar...
Entre os meus lábios me embriagava mais do que a bebida alcoólica, com a sensação de languidez que provocava em meu corpo, fazendo tudo ter sentido.
As personagens até ali interpretadas por mim, todas passavam a ter um significado ainda maior...
Pois naquele palco improvisado sobre a minha cama, a alma se resplandecia toda em sua aura, contagiando-nos.
Ele sabia exatamente o seu papel de coadjuvante e estava ali somente para me proporcionar o prazer que tanto almejava...
O gozo quando brotou...
Este floresceu de forma crescente e sentida em cada contração de meus lábios vaginais... O que fazia com que ele desfrutasse de minhas reações com os solavancos em meu sexo e o deixava cada vez mais rígido.
A minha pele arrepiada...
O corpo lânguido...
As estocadas mais firmes...
Até que se deixou derramar...
O líquido viscoso inundava as minhas entranhas, alimentando a voluptuosidade de minha essência.
Em atos contínuos, como uma peça teatral, tudo ocorrera como deveria ser.
Pele arrepiada...
Corpos suados...
Respirações ofegantes...
Desejos pelo momento saciados...
***
Quando tentávamos nos recuperar da loucura que havia acontecido, ouvimos batidas na porta da antessala do quarto... Era o serviço de quarto...
Ao colocar o roupão, uma das serviçais, avisou-me que tinha uma mulher na porta do estabelecimento fazendo um escândalo. Porque soube que o marido foi visto saindo da cafeteria e entrando no hotel acompanhado por uma atriz.
Neste momento, eram três serviçais tentando colocar pano quente na situação.
- Não tem problema algum... O escândalo já está formado! – Eu lhes disse.
- Minha senhora, precisa ser mais cuidadosa e discreta! – Falou-me uma das serviçais com um pouco mais de intimidade.
- Entendo! Mas quem tem que se preocupar aqui não sou eu! Afinal de contas, o casado aqui não sou eu! – Eu lhe expliquei.
- Minha senhora! – A outra exclamou colocando uma das mãos sobre a boca.
- Chega! Não tem clima mais para nada! Então, recomponha-se e vá acalmar a sua esposa! – Eu falei dirigindo-me ao quarto para o distinto cavalheiro.
Uma das serviçais o ajudou a juntar os seus pertences.
Um quarto funcionário do hotel, dirigiu-se a minha suíte, pedindo para que todo aquele constrangimento fosse tão logo resolvido, pois a frente do estabelecimento estava tomada por curiosos. E já a imprensa chegaria, por se tratar de uma atriz.
Do alto do prédio só se via as luzes da cidade e se ouvia o burburinho que ali se formara.
E ele em posição de fracassado, pondo abaixo a imagem de virilidade que outrora fizera, deixou o quarto com a ajuda das funcionárias.
O homem depois de algumas horas de prazer deixou o meu quarto...
Qual explicação dera à sua mulher?
Não soube... E nem me interessou saber!

***
Com a ajuda de uma das funcionárias que momentos atrás estivera em meu quarto, novamente me arrumei...
Ao deixar o hotel para prestigiar uma peça de teatro, ao deixar o prédio, algumas pessoas ainda se encontravam ali por conta do escândalo da tal mulher que, para minha surpresa também estava por lá e quis tirar satisfação.
- Ah minha senhora... Não tens que brigar comigo. O único responsável é o seu marido. O casado da história é ele! – Eu a respondi.
- Você é louca! Vou registrar uma queixa contra você! – Ela me desafiou.
- Fique à vontade! Não arranquei nada daquele indivíduo. Não dará nada no corpo de delito! – Eu a respondi.
- Você é uma prostituta escondida atrás dessa profissão de atriz! – Ela esbravejou.
- Faça-me o favor! Senhora, como lhe disse: Fique à vontade. A vida é minha. O corpo é meu. – Eu entrei no carro que já me aguardava a deixando falando sozinha.

***
No dia seguinte, a história já estava estampada no pequeno jornal da cidade.
O que fiz, foi me deleitar.
A minha passagem seria discreta, mas devido ao tal acontecimento, o convite para permanecer na cidade se estendeu por mais uma semana... Onde pude ter contato mais direto com pessoas da alta sociedade e políticos importantes se hospedavam no mesmo hotel apenas por uma noite para desfrutar de minha doce e cordial companhia.
Os contratos em minha terra natal foram se multiplicando, ao ponto de escolher as minhas personagens.
Mesmo com todos os percalços que a sociedade me impõe, jamais deixaria que as pedras pelo caminho me derrubassem...
Poderia até tropeçar...

Mas cair... Jamais!

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