sábado, 10 de outubro de 2020

A maldição

Serena –

Aparentemente um nome que combina com a sua essência.

Dona de uma alma doce, de pele clara, olhos castanhos, cabelos loiro mel, de estatura mediana. Julgava-se uma pobre mortal como outra criatura qualquer.

No entanto, os seus caminhos seguiam por trilhas que jamais ousaria colocar os pés.

Prometida a igreja desde pequena, só sabia obedecer as ordens dos pais.

Mas em seu íntimo sempre desejou viver ao seu modo e de maneira livre. Porém, a época em que nascera não a ajudava o suficiente.

Em seu âmago havia algo diferente e desconhecido. E sendo protegida não sabia expressar em palavras o que tanto lhe afligia – Apenas sentia.

Todos a conheciam no vilarejo, e a chamavam de santinha.

***

Quando a uma ida à igreja e sozinha, encontrou-se com um rapaz, depois que os seus olhares se encontraram não se desgrudaram mais.

Sem perceber Serena lhe chamara a atenção de alguma forma, e não hesitaram em se falar. Uma força avassaladora dominou os dois de tal maneira, hipnotizados se entregaram ao desejo.

Ela não sabia exatamente o que fazia, até então aquele homem negro, alto, forte e viril tocar o seu corpo e descobrir sensações nunca experimentadas naquele instante.

Carregando-a em seus braços, ele a levou para uma parte mais erma do caminho. E atrás de uma árvore, desfizeram-se de suas roupas... Um lugar inóspito – Serena não percebia e desconhecia o perigo que corria não que aquele homem fosse uma ameaça, mas muito pelo contrário, os dois deixavam se guiar pelo desejo.

O furor do tesão tomava conta de seus corpos, irradiando-os de luxúria.

Serena descobria que tudo poderia ser maior do que vivera até o momento.

Apesar de seu porte físico, Haniel se mostrava muito atencioso e carinhoso. Ela por sua vez, mais parecia um bibelô ao seu lado.

Serena quando avistou o seu membro tomando forma em suas mãos delicadas, ficou tentada para ver até aonde cresceria. O instinto a impulsionou para que colocasse entre os seus lábios, começou a degustá-lo... No início sem jeito, mas logo foi melhorando os seus movimentos percebendo que lhe provocava uma gostosa reação. Dessa forma a quentura e a lubrificação no meio de suas coxas começaram a se intensificar. No início achou estranho ao mesmo tempo instigante e bom, foi o que fez a dar continuidade.

Finalmente, Haniel lhe tocou bem ali no meio, o que fez com que soltasse um gemido. Ele percebendo que estava pronta, deitou-se sobre a grama sugando a sua boca, invadindo-a com a língua, continuou o trajeto pelos seios, deslizando na barriga... Alcançando em fim o sexo intumescido, chupou-a com intensidade, tampando os seus lábios com a mão, sufocando os gemidos.

Haniel direcionando o cacete para a entrada de sua gruta, foi invadindo o quanto pôde, arremetendo-se com cuidado... Um filete de sangue começou a escorrer. Mesmo sentindo um pouco de dor, Serena demonstrava toda a sua majestade de fêmea e o engoliu por completo.

Os seus corpos envolvidos em total sincronicidade bailavam na cadência de uma dança exótica repleta de voluptuosidade como se reconhecessem.

Serena se entregava ao desconhecido... A um prazer nunca experimentado.

Haniel a cavalgava com maestria –

Corpos suados –

Cabelos desgrenhados –

Ofegantes –

Corações acelerados –

Rumo ao igual propósito de redenção.

Com o seu corpo cada vez mais relaxado, Serena sentiu estremecer e o seu sexo convulsionava de uma forma desconhecida, mas que lhe provocava o êxtase. Haniel a olhava com desejo e satisfação, demonstrando no sorriso envolvido em seus lábios... Quanto a ela retribuiu com o mesmo gesto.

Porém, ele não cessava as suas arremetidas... Agarrando-se as gramas no chão, Serena o sentiu pulsionar dentro de si, e quando se acalmou, deitou-se ao seu lado.

Os dois ficaram deitados lado a lado, um mero desconhecido, inertes a uma realidade que julgavam não ser a deles.

Entretanto, o que Serena não sabia, era que Haniel tinha uma família, ou seja, uma mulher. Sim! Ele era casado.

***

Serena cumpria os seus compromissos entre a casa e as suas obrigações na igreja.

Serena e Haniel sempre que necessário achavam uma maneira de se encontrarem. A cumplicidade dos dois era mútua, tirando o fato dele não lhe contar o seu segredo. E o que importava para ela, era estarem juntos. Uma excitação os consumia dia e noite.

***

No lugar em que os dois moravam, existia uma lenda ou uma profecia em que uma mulher branca acabaria com a maldição, colocada no lugar, por uma curandeira que a igreja julgava ser uma bruxa. Está mesma mulher morreu queimada na fogueira pelas mãos da inquisição. Enquanto o fogo a consumia, esbravejou blasfemando contra a igreja. A sua voz ecoava em meio às grandes labaredas que se formaram. E desde então, alguns eventos sobrenaturais vinham ocorrendo no pequeno vilarejo.

Anos depois, uma mulher disse no altar que o seu espírito encarnaria na terra e no mesmo lugar. E assim, a mesma igreja que ceifou a sua vida, redimir-se-ia e todo o mal cairia por terra.

Os homens tomariam conhecimento através de um sinal em forma de um pentagrama em seu corpo. Está mesma criança receberia o seu nome de batismo. No entanto, nem mesmo ela saberia que teria o nome de Luz da Redenção. Somente no momento certo seria revelado.

A partir dessa revelação, a igreja designou um grupo de pessoas para investigarem e descobrir qualquer vestígio e o mínimo que fosse para tentar reverter o caos que se instalou no lugar. E que a mesma igreja sempre colocara panos quentes nos eventos do além para não alarmar a comunidade.

***

Certa vez, Serena adentrou em um recinto restrito na casa paroquial. Apenas pessoas com autorização tinham acesso. Quando alguém a chamou, vislumbrou vários documentos sobre a mesa e também dispostos em estantes. Enquanto a outra pessoa falava com ela e lhe deu as costas, Serena abriu um papel que se encontrava dobrado sobre a mesa e leu o seguinte nome: Luz da Redenção em negrito. Um arrepio correu em seu corpo, tocando a sua nuca, desmaiou em seguida. Ao voltar a si, encontrava-se em casa.

Por bem, os seus pais acharam melhor ela passar alguns dias na casa de familiares, pensando ser esgotamento. Entretanto, o seu pensamento estava em Haniel.

***

Após viajar por algumas horas de trem, foi recebida na estação por uma tia.

Como lá havia muitas crianças, não seria difícil se distrair, principalmente não pensar no amor que estava distante. O que mais lhe afligia era o tempo, pois em dois anos seria levada ao convento. Até lá, muitas coisas aconteceriam.

Por haver muitos familiares, o conforto não existia conforme em casa. A criançada era bem divertida. Mal fazia as tarefas domésticas, e as brincadeiras era rotina. O que lhe confortava e, às vezes, a companhia da tia, por estar longe de seus pais e de Haniel.

***

Em uma das noites, um primo distante chegou de surpresa para repousar na casa.

O seu olhar sobre o corpo de Serena era quase semelhante ao de Haniel, e isso a incomodava, porém, existia uma sombra negra e horripilante.

O primo sinistro percebia que Serena não dispunha mais de sua pureza, ameaçando contar caso não se deitasse com ele.

Ao ponto de quase fazê-lo, Haniel chegou de surpresa na calada da noite, avisando que a levaria para outro lugar. Para escapar da chantagem do primo, ela não pensou duas vezes, e somente de camisola seguiu com ele. A intenção seria que ela retornasse antes do amanhecer. Mas como parar a fúria de um parente interesseiro?

***

Não muito distante dali, Serena e Haniel tentando se desvencilhar foram interceptados por um grupo de pessoas a qual a acusavam de adultério. Ela nada entendia o que estava acontecendo. O que sentia por Haniel, embora avassalador existia um sentimento puro.

Com os braços atados para trás, sofreu uma flagelação pública. No início da madrugada... Distante de casa.

A mulher de Haniel comandava o seu espetáculo de horror. Em seu papel de esposa ofendida, enquanto Serena tinha o seu corpo manchado pelo seu próprio sangue com as pedras a tocando.

Homens seguravam Haniel para que ele pudesse assistir a tudo e lhe servir como lição para não ter o mesmo comportamento.

Outros homens arrastaram o corpo de Serena como se fosse um papel e a colocando sobre um pequeno palanque em praça pública, Haniel viu uma foice reluzir sobre a luz da lua e decapitá-la.

A outra mulher se sentindo triunfante pegou a cabeça decapitada da garota e a exibiu como um troféu.

***

Na manhã seguinte ao acontecido, explodiu feito uma bomba o escândalo.

***

Ao prepararem o corpo de Serena e entregarem para a família, a comissão da igreja fez o seu relatório.

Dias depois, um documento foi entregue nas mãos do padre do pequeno vilarejo. E ao lê-lo, o papel avisava sobre a maldição e que se perpetuaria pela eternidade. Pois constataram um sinal, o mesmo que revelava a sua verdadeira identidade, no corpo de Serena em sua nuca. Ela seria responsável pelo fim dos infortúnios. E como não teve a menor chance, as coisas só tenderiam a piorar.

***

Quanto a Haniel...

Ele não retornou a sua casa.

Após o que acontecera a Serena, ficou vagando pela floresta escondido de tudo e de todos.

Às vezes, alguém o avistava por perto. Com o tempo foi ficando mais escasso até que nunca mais o viram.

***

Moradores até em tempos atuais relembram do amor proibido de Serena e Haniel, passado de geração em geração.

Acredita-se que Haniel era a chave para mudar o rumo dessa história antiga. E como foi interrompida o seu corpo foi abduzido e levado para perto de sua Serena. E hoje os seus espíritos vagam livres pela floresta em outra dimensão e que não poderíamos acompanhá-los.

Quanto ao pequeno vilarejo, com os moradores assustados, quem pôde o deixou, transformando-o.

Os que ficaram eram assombrados e mesmo aqueles que partiram nunca se livraram da maldição que aquela mulher uma vez condenada à fogueira, nunca mais deixou o lugar.

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